VIII Congresso Português de Sociologia

“40 anos de democracia(s): progressos, contradições e prospectivas” é o tema do VIII Congresso Português de Sociologia, que tem lugar entre 14 e 16 de abril de 2014, na Universidade de Évora. Iniciativa que coincide com os 50 anos de Ensino Superior da  Sociologia em Portugal e que teve início justamente nesta cidade.

Em 25 de Abril de 1974 Portugal iniciou, com décadas de atraso, uma transição para a democracia que acelerou de forma singular vastos processos de mudança social. Cientistas sociais de diferentes proveniências nacionais têm vindo a acentuar ligações entre a Revolução Portuguesa e movimentos sociais anteriores e ulteriores no contexto europeu e mesmo global.

Além do mais, a singularidade portuguesa tem ainda outros contornos: desde essa data até hoje Portugal modificou com intensidade inaudita as suas estruturas sociais: completou a transição demográfica (sendo hoje um país fortemente envelhecido, com taxas de fecundidade e nupcialidade muito baixas); passou de país rural a sociedade de serviços; escolarizou-se e urbanizou-se, mas com traços de urbanização difusa e in situ; conferiu à mulher novos papéis e protagonismos; assumiu-se como nação europeia de contornos pós-coloniais (no mesmo território coexistem identidades étnicas e culturas várias); internacionalizou referências e práticas institucionais, nomeadamente na estruturação de um estado-providência de cobertura universal; modificou profundamente práticas culturais e estilos de vida.

No entanto, fê-lo com contradições, assimetrias e desigualdades. Se a intensidade da pobreza diminuiu, o mesmo não se pode dizer das desigualdades, que permanecem elevadas. Democratizou-se politicamente, mas a esfera pública e os movimentos sociais apresentam ainda configurações débeis, exprimindo-se, por parte dos cidadãos, uma elevada distância subjetiva face ao poder. Recebeu vastos contingentes de imigrantes, mas está agora, em plena crise, num contexto de precarização e de desemprego, a reativar a emigração, desta feita com um acréscimo de heterogeneidade, uma vez que inclui fuga de cérebros. Aproxima as performances escolares da média europeia, mas a estrutura da população ativa é ainda arcaica. O Estado-providência transmuta-se em estado social e ameaça quedar-se por um estado mínimo, no momento em que ainda não se tinham alcançado as melhores taxas de cobertura dos serviços públicos e da segurança social.

A singularidade portuguesa apresenta hoje, assim, novas pontes de comunicação comparativa com outras realidades territoriais, oferecendo-se como um raro laboratório de análise sociológica. Fenómenos de regressão (estrutural e disposicional), de articulação de ritmos assincrónicos de mudança social, de proliferação do risco e da incerteza, conciliação conflitual de modernidades múltiplas numa modernidade inacabada, desafiam-nos a olhar sociologicamente estes últimos 40 anos e também a refletir prospectivamente sobre as tendências e desafios do futuro próximo.

Apelando à participação de especialistas nacionais e estrangeiros, o VIII Congresso, na linha de edições anteriores, pretende continuar a cimentar os intercâmbios da sociologia portuguesa além-fronteiras, procurando aferir continuidades no conhecimento acumulado, mas também criando oportunidades para a expressão e confronto de novas abordagens.

Mais informações em www.aps.pt/viii_congresso .

 

Publicado em 08.04.2014
Fonte: GabCom | UÉ