A Minha Investigação
Entrevista a Karina Garcia

Karina Lucia Garcia é investigadora do CIDEHUS e e desenvolve o seu trabalho na área de Divulgação Científica e Património.

Em poucas palavras, quem é Karina Garcia e qual o seu percurso?

Sou hispano-brasileira, tenho 40 anos, sou mãe de uma filha de 3 anos e me considero uma investigadora privilegiada. Minha formação e percurso acadêmico foram iniciados na área das Ciências Naturais no Brasil e meu doutoramento foi feito em Portugal, numa investigação compartilhada entre vários ramos científicos-disciplinares, a História da Ciência, a Museologia e a Geologia. 

Essa trajetória me possibilitou uma visão mais realista da relação existente entre as dimensões do conhecimento científico de alguns aspectos da natureza e de sua divulgação, para além de sua ligação intrínseca com a diversidade cultural e social. 

 

Qual o trabalho que realizou que considera mais impactante e porquê?

Atualmente trabalho fazendo uma leitura das exposições de Museus de História Natural e Centros de Ciência da Europa e das Américas quanto a atualização científica dos seus discursos de divulgação, o uso do patrimônio e como tudo isso pode impactar a cultura ciêntífica regional. Para ser mais específica, verifico se as novas abordagens científicas da Geologia e da Biologia, estão sendo divulgadas pelos Museus de História Natural e Centros de Ciência, inclusive numa relação interdisciplinar.

Neste contexto, eu diria que este trabalho é o mais importante que já realizei até o momento, embora só tenha sido possível devido a uma experiência de mais de dez anos na academia, como professora universitária da área de Geociências, especialmente de Paleontologia, Evolução e Dinâmica da Terra.  Mesmo sendo a temática de divulgação científica em Museus e Centros de Ciência muito tratada nos dias atuais, o enfoque que investigo é inédito, principalmente no que diz respeito a divulgação científica das inovações das Ciências da Natureza a da Vida. 

Desde meu doutoramento, percebemos que há uma grande lacuna entre o que se divulga nos Museus de História Natural e Centros de Ciência dos Centros de Investigação e Universidades, facto que é preocupante para o mundo globalizado que vivemos nesses tempos e que pretende melhor compreender a crise biótica que estamos passando. 

 

Que papel podem desempenhar hoje os estudos sobre a divulgação do património geológico e científico, dentro e fora da academia?

É importante uma reflexão mais pormenorizada sobre o atual abismo que separa os Museus de História Natural e Centros de Ciência dos Centros Investigação e Universidades, emancipando os primeiros para criar e desenvolver um corpo de saberes e metodologias próprias, enfatizados em uma museologia da “participação” (interação). O que eu defendo no meu trabalho é a necessidade de uma perspectiva integradora de saberes, de objetivos, onde apenas as abordagens comunicativas possam ser diferenciadas. 

É indispensável produzir mais informação, documentação e matéria expressiva comunicável com os públicos, onde a construção de problemas, o exercício de suas críticas, o fazer a experimentação, possam estar unidos num ambiente propício à aquisição do conhecimento. Sendo assim, os Museus de História Natural e os Centros de Ciência podem usar o seu potencial  - tanto seu patrimônio como inclusive a sua capacidade de contrapor ideias - para o estabelecimento de protocolos de cooperação com outras estruturas.

Nosso século já assiste enormes progressos científicos, tendo alguns destes permitido um acesso cada vez mais rápido à informação para todas as camadas da população (e.g. internet), mas para que este fato seja utilizado a favor da ciência, a divulgação de temas – em específico daqueles que são parte integrante da manutenção da vida - tem de ocorrer, nisto os lugares de ensino não formal são uma rica fonte de contribuição. Sabe-se que há um longo caminho a percorrer neste sentido, mas pelo menos, já reconhecemos estar na direção do caminho certo.

 

 

Publicado em 14.04.2020
Fonte: CIDEHUS