A Minha Investigação
Entrevista a Bruno Lopes

Bruno Lopes é doutorando em História e membro do CIDEHUS.

Em poucas palavras, quem é Bruno Lopes e qual o seu percurso?

Bruno Lopes é licenciado (2008) e mestre (2012) em História, ramo de Património Cultural pela Universidade de Évora. Desde 2009, que o seu percurso de investigação passa pela Inquisição portuguesa e, de momento, encontra-se a realizar o seu doutoramento, intitulado «Os Pilares Financeiros da Inquisição Portuguesa (1640-1773)». Actualmente, trabalha ainda como bolseiro de investigação no projecto Sovereign debt and private credit in Portugal (1668-1797) (PTDC/HAR-HIS/28809/2017), alojado no CSG-ISEG/ULisboa.

 

Qual o trabalho que realizou que considera mais impactante e porquê?

Creio que é o trabalho que tenho entre mãos. O estudo das finanças da Inquisição em Portugal estava, quase todo, por fazer. Ainda que seja um tema «clássico» da historiografia portuguesa, a verdade é que os trabalhos com perspectivas económicas e financeiras não são abundantes. Para esta lacuna, não é alheio o facto de a História Económica ser quase inexistente dos planos de estudo das universidades. Isto leva a que os estudantes não tenham sensibilidade para os números, nem para compreender que a História Económica pode resultar da fusão entre dados quantitativos e qualitativos. Nem só de abordagens cliométricas vive a História Económica.

 

Que papel podem desempenhar hoje os estudos sobre a História Económica da Inquisição, dentro e fora da academia?

Estudar as finanças de uma organização marcante da sociedade portuguesa do Antigo Regime, como foi a Inquisição, tem sido um grande desafio. Está a ser possível chegar à conclusão de que a sua evolução não foi dissonante da sua vida financeira. Por outro lado, está a conseguir perceber-se que a maior ou menor disponibilidade financeira ditava os caminhos a seguir. Há uma tendência geral para se ver este tribunal como um bloco estanque, mas não foi assim. É preciso que nos interroguemos porque razão o Santo Ofício durou tanto tempo, de 1536 a 1821.

Fora da academia, os estudos de cariz económico e financeiro poderão ajudar a desmistificar ideias feitas acerca da existência do Santo Ofício. A Inquisição é um tema, especialmente, sensível à criação de mitos, que povoam a memória colectiva. A aplicação da pena de morte, os autos da fé ou as fogueiras são, apenas, três exemplos do que acabou de se afirmar. É fundamental alargar a forma como se vê esta organização, não no sentido de criar um branqueamento, mas sim pelo caminho do esclarecimento e eliminação de ideias preconcebidas que, em muitos casos, estão longe de corresponder à verdade histórica.

Publicado em 11.03.2020
Fonte: CIDEHUS