Seminário "Calor de processo solar na indústria: Tecnologias, aplicações, investigação"
Projeto INSHIP discute energia solar térmica na indústria

As potencialidades de aplicação da energia solar térmica no calor de processo na indústria foram o tema do seminário “Calor de processo solar na indústria: Tecnologias, aplicações, investigação”, organizado por Cátedra Energias Renováveis da Universidade de Évora (CER-UÉ), Ordem dos Engenheiros (OE) e Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), que decorreu dia 7 de fevereiro, na sede da OE, em Lisboa.

A iniciativa insere-se nas atividades do projeto INSHIP – Integrating National Research Agendas on Solar Heat for Industrial Processes, e procurou juntar investigadores, decisores políticos, entidades de financiamento e indústrias, no debate sobre o potencial das energias renováveis na indústria, num workshop nacional à semelhança do que tem acontecido nos vários países dos parceiros do projeto.

De acordo com Pedro Horta, coordenador da CER-UÉ, “o calor de processo na indústria tem um peso muito significativo no consumo energético, mas tem permanecido sob uma certa invisibilidade na sociedade e com pouca relevância no discurso político.” O Plano Nacional Energia e Clima (PNEC 2030) ou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNE 2050) não dedicam muita atenção ao papel das renováveis no aquecimento e arrefecimento na indústria, mas “prevê-se que em 2050, 6% das necessidades da indústria serão suprimidas por solar térmico”, revela Luís Gil, investigador da DGEG.

O que os investigadores presentes no seminário procuraram demonstrar é que existem tecnologias de solar térmico disponíveis no mercado, capazes de suprir as necessidades da maioria dos consumos de calor de processo, a baixa e média temperatura. Ana Magalhães (INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial) apresentou uma instalação de calor de processo solar a média temperatura na empresa demonstradora Kemet Electronics Portugal S.A., em Évora, desenvolvida no âmbito do projeto SHIP – Solar Heat for Industrial Processes, enquanto que o engenheiro Tiago Eusébio (CER-UÉ) acrescentou outros exemplos de indústrias que utilizam o calor solar de processo, em diferentes configurações, como a Goess Brewery (Áustria), Ruyi Textile (China), Barcel Merida (México), Agrana Fruit (México) ou RAM Pharma (Jordânia).

Na comunicação sobre a investigação e principais resultados do projeto INSHIP, Tiago Osório, investigador do CER-UÉ, analisou as várias tecnologias dos coletores que absorvem a radiação solar, convertendo-a em calor, desde modelos planos ou de tubo de vácuo, aplicados a processos de baixa temperatura (80ºC a 150ºC), assim como tecnologias concentradoras para temperaturas mais elevadas, como coletores Fresnel, cilindro-parabólicos e de tipo CPC quase estacionário. Na indústria, cerca de metade das necessidades de calor de processo situam-se em temperaturas abaixo de 400ºC e podem ser supridas pelas tecnologias referidas. Entre as vantagens para a investigação científico-tecnológica no setor encontram-se a redução de emissões de dióxido de carbono, a redução dos custos de energia e uma maior segurança energética através da menor dependência de importações, assim como a criação de uma indústria europeia e consequente criação de emprego local.

Na atualidade, as tecnologias apresentam uma conversão foto-térmica bastante eficiente, com mais de 60% da luz solar a ser convertida em energia térmica. A razão para que estas tecnologias tenham uma utilização diminuta na indústria poderá explicar-se por questões de custo médio e de competitividade. Segundo Pedro Horta, “numa perspetiva de payback a 5 anos as condições não são interessantes para a indústria”. Será necessário resolver os problemas de financiamento, através da criação de linhas de investimento, crédito bancário específico e a entrada em cena de novos agentes como Empresas de Serviços de Energia (ESCOs) que podem partilhar ou suportar os custos dos investimentos vendendo posteriormente a energia ao consumidor industrial.

A problemática económica e financeira orientou as intervenções da mesa-redonda final. Para Collares Pereira, presidente do IPES (Instituto Português de Energia Solar), "a importância da escala é fundamental, à imagem do que se verificou com o fotovoltaico, que se tornou no modo mais eficiente de produçao de energia elétrica, em parte devido a ter ganho escala". Uma perspetiva de ganho de escala que, segundo Pedro Horta, "dependerá muito dos big players e das utilities. O calor de processo precisa do mesmo tipo de investimento e de abordagem". Como reconhece João Bernardo (DGEG), "não será fácil aplicar renováveis a todos os processos e na indústria há processos que não são eletrificáveis, nomeadamente o problema maior das altas temperaturas". Contudo, o "calor de processo solar pode dar uma resposta e existe uma elevada expetativa em relação a esta tecnologia, que deverá fazer parte do portefólio de tecnologias disponíveis"."

Publicado em 20.02.2020