Laboratório HERCULES investiga bactérias do Paleolítico para medicina

A Universidade de Évora (UÉ) encontra-se a investigar como as grutas paleolíticas podem esconder a solução para doenças do século XXI. Ana Teresa Caldeira, investigadora do Laboratório HERCULES da UÉ, explica ao Observador como pretedem encontrar “nichos de biodiversidade desconhecidos" ou seja, "bactérias com potencial biotecnológico que possam ser utilizadas para a medicina e aplicações ambientais”.

A investigação decorre no âmbito do projeto ProBioma, que se encontra a estudar minas e grutas, “consideradas de ambiente extremo, para encontrar bactérias que tenham um metabolismo diferente, que possam dar lugar à composição de antibióticos e antitumorais necessários para ampliar o número limitado que existe no mercado", sublinha Cesáreo Sainz Jiménez, coordenador do projeto no Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia de Sevilha à agência Efe.

No Alentejo, a gruta do Escoural, classificada desde 1963 como Monumento Nacional, e onde foram identificados pela primeira vez vestígios de arte rupestre paleolítica em Portugal é um dos pontos estratégicos deste projeto,  onde, recorrendo às mais avançadas técnicas do Laboratório Hércules, será analisado o ADN dos micro-organismos aí existentes, (bactérias, fungos). Recorrendo a equipamentos de última geração, os investigadores são assim capazes de análisar os micro-organismos quer nas instalações laboratoriais da UÉ, quer através de um "laboratório móvel", onde é possivel transmitir os dados para um computador portátil e replicar cópias de ADN que serão posteriormente enviadas para laboratórios dos Estados Unidos da América.

Segundo a equipa do projeto, recorrendo a dados da Organização Mundial de saúde (OMS), “existe uma séria falta de novos antibióticos em desenvolvimento para combater a crescente ameaça de resistência antimicrobiana”, acrescentando que “um relatório recente indica que apenas oito dos 51 novos antibióticos e produtos biológicos em desenvolvimento clínico para tratar microrganismos patogénicos resistentes a antibióticos são tratamentos inovadores, que podem adicionar valor à oferta atual de medicamentos”. Ainda segundo os investigadores, “a maioria dos fármacos na carteira clínica são modificações das classes de antibióticos existentes e são apenas soluções a curto prazo”.

Coordenado pelo Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia de Sevilha, o projeto conta com a participação da empresa espanhola Serviços Mineiros da Andaluzia (Secilha) e as universidades de Évora e do Algarve, com o apoio do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg Espanha-Portugal (Poctep) da União Europeia.

A área de atuação deste projeto estende-se a oito grutas e minas localizadas na faixa piritosa ibérica, na Andaluzia ocidental (Espanha) - próximas a Rio Tinto, em Huelva -, e no Alentejo e Algarve, em território nacional, com o objetivo de "revelar novas estirpes de bactérias e de fungos com potencial produção de CBA de interesse para a medicina e agricultura”.

Publicado em 13.02.2020
Fonte: GabCom | UÉ