Partilhar Histórias de Objetos em Nossa Senhora de Machede

“Queremos aproximar a ciência da sociedade e, desta forma, permitir a colaboração de diversos públicos no acesso a conteúdos, ideias e conceitos”, começa por explicar Elisabete Pereira, investigadora do IHC_CEHFCi da Universidade de Évora (UÉ) sobre a iniciativa de divulgação científica que decorreu no dia 25 de junho, na Associação para o Desenvolvimento e Bem-Estar de Nossa Senhora de Machede, uma freguesia do Concelho de Évora.

A ideia do projeto “Partilhar Histórias de Objetos” nasceu da tese de doutoramento de Elisabete Pereira, intitulada “Actores, colecções e objectos: coleccionismo arqueológico e redes de circulação do conhecimento - Portugal, 1850-1930”, defendida na UÉ em 2017, e o propósito parece ser simples: “levar a história de objectos que se encontram em museus a um perfil de público que geralmente não tem acesso à oferta cultural, seja por motivos económicos, saúde ou simplesmente de oportunidade” sublinha a investigadora da UÉ - uma metodologia que está já a ser replicada em outros centros de investigação de diversos países europeus – utilizada quer em centros de dia, “como é o caso desta iniciativa que hoje aqui está a decorrer”, quer em contexto hospitalar, com o objetivo de “desenvolver a autoestima dos pacientes e oferecer momentos lúdicos e culturais”, valorizando o património “e sobretudo valorizar e devolver dignidade e qualidade de vida aos cidadãos” salienta.

Na Associação para o Desenvolvimento e Bem-Estar de Nossa Senhora de Machede, houve oportunidade de observar, entre outros objetos, um machado de pedra polida ou uma Lucerna Romana, utensílios utilizados pela investigadora para “criar analogia com os objetos da atualidade”, e mostrar que o património que se encontra preservado em museus não é “exclusivamente fruto do trabalho de cientistas”, mas que contou também com a colaboração “de inúmeras pessoas ligadas a atividades ao mundo rural”.

A investigação de Elisabete Pereira comprova que “devemos efectivamente muitos dos objectos arqueológicos actualmente preservados nos museus portugueses a acções e a conhecimentos de protagonistas locais, actores maioritariamente invisíveis na historiografia contemporânea sobre os museus”, e adianta que estes “desempenharam, contudo, um papel crucial na identificação e obtenção de objectos que hoje integram os museus com colecções de arqueologia”. Como refere, “tais protagonistas locais, detinham, em alguns casos, aliado a um considerável capital cultural, um profundo conhecimento do território com actividades ligadas à lavoura e ao campo”, como é exemplo, alguns dos utentes desta Associação para o Desenvolvimento e Bem-Estar, com “uma vida” dedicada ao trabalho rural.

Tempo para Partilhar

Formada em Gestão de Empresas e em Turismo pela Universidade de Évora, Sónia Balicha, dedica parte do seu tempo a gerir esta Associação, procurando “incessantemente” por actividades que possam enriquecer o quotidiano das cerca de duas dezenas de utentes desta Associação. “Estas actividades são para nós fundamentais e primordiais” sublinha com satisfação, “queremos potenciar este tipo de atividades e devolver-lhe o gosto pelo conhecimento, pela cultura, pelo lado mais artístico”. Se no início havia algumas reticências na participação neste tipo de atividades, agora, tal como assegura  Sónia Balicha, “mostram-se cada vez mais receptivos e entusiasmados, esperam sempre por mais surpresas e querem participar nas diversas actividades que potenciamos”.a Para quem dirige este tipo de associações, “acaba por ser muito gratificante, e mesmo para a própria aldeia” recorda, “receosos do encerramento deste espaço”. Hoje, reconhecem a importância e o esforço deste tipo de interatividade, nomeadamente com a Universidade de Évora, sobretudo em temas que “apelam à memória, à sua vivência e que lhes suscita a curiosidade”.

Com uma vida dedicada à agricultura e 34 anos dedicados também ao pequeno comércio, Manuel António Mendes com 89 anos de idade, mostra-se “radiante” com esta iniciativa, e avança: “gosto muito de história e quero saber mais” diz com a satisfação de quem cultiva o gosto na aprendizagem enquanto a tela mostra algumas das inovações dos romanos, como a balança, o compasso, a fechadura e a chave, o espelho ou as termas públicas. Com sorriso afável e olhos vivos e curiosos, Manuel Mendes acrescenta ainda que gosta de cantar, pintar e de ranchos folclóricos.

O Projeto “Partilha de Histórias de Objetos” é uma parceria entre a Universidade de Évora e a Universidade Nova de Lisboa, através do IHC_CEHFCi, o Museu Nacional de Arqueologia e Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo.

Publicado em 28.06.2019
Fonte: GabCom | UÉ