Ilustração: BioScience
Investigador Miguel Araújo publica artigo na revista BioScience

Investigadores de Portugal e do Brasil propõem globalização das decisões de conservação e a sua articulação com as políticas agrícolas em artigo na revista BioScience. Aumentar a produção de alimentos ou salvar a biodiversidade? A solução do conflito pode estar em globalizar os esforços de conservação.

A população mundial ascende já a mais de 7 bilhões de habitantes e espera-se que chegue a 10 bilhões em 2050. Para alimentar uma população crescente será necessário aumentar a produção agrícola e para minimizar os efeitos negativos deste aumento de produção na biodiversidade do planeta, investigadores do Brasil e de Portugal propõem a globalização das decisões de conservação e a sua articulação com as políticas agrícolas. A investigação, publicada na revista norte americana BioScience, foi desenvolvida numa parceria entre o CIBIO/InBio (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos/ Rede de Pesquisa em Biodiversidade e Biologia Evolutiva) na Universidade de Évora, em Portugal, e as Universidades Federais da Bahia e de Goiás, no Brasil.

“Se as necessidades das populações humanas continuarem a aumentar, a produção de alimentos terá que seguir o mesmo caminho e o aumento dessa produção tenderá inevitavelmente a uma maior perda de biodiversidade” refere Miguel Araújo, Professor Catedrático convidado da Universidade de Évora e Investigador do Imperial College de Londres e do Museu de Ciências Naturais de Madrid. “O conflito entre agricultura e conservação não é novo e as soluções propostas até agora passam por reduzir o desperdício de alimentos e resolver problemas na produtividade agrícola. No entanto, nós propomos uma abordagem complementar: levar em consideração a produção agrícola para resolver a crise da biodiversidade e promover a definição de áreas protegidas com base em um modelo globalizado. A combinação destas duas estratégias poderia resultar na redução de 78% das perdas de oportunidade agrícola resultantes da implementação de áreas protegidas. Além disso, poderia ser alcançado um aumento de 30% na proteção da biodiversidade” conclui o Prof. Araújo.

“Atualmente as estratégias de conservação são implementadas principalmente a nível nacional e local e as ações desenvolvidas em prol da conservação, como a criação de áreas protegidas, podem afetar negativamente o desenvolvimento das comunidades locais e dos países onde são implementadas.” Assim, “outra pergunta que tínhamos era se os países mais pobres, ou mais dependentes da agricultura, seriam mais afetados ao realizarmos ações globalizadas de conservação e a resposta que encontrámos é que, de maneira geral, os países mais pobres não serão mais atingidos”, explica Ricardo Dobrovolski, Professor da Universidade Federal da Bahia e primeiro autor do artigo. “No entanto, os poucos países que serão negativamente afetados devem receber compensação a fim de o processo de desenvolvimento desses países não seja comprometido. Além disso, diversos estudos têm mostrado que o subdesenvolvimento é um empecilho para as ações de conservação”, acrescenta Rafael Loyola, Professor da Universidade Federal de Goiás.  

“A humanidade terá que enfrentar dois grandes desafios: atender à procura futura de alimentos e mitigar os impactos no ambiente, incluindo a biodiversidade. Globalizar as ações de conservação, ao mesmo tempo em que são desenvolvidas soluções para otimizar os benefícios da conservação e a produção de alimentos, é uma abordagem promissora para enfrentar esses desafios”, refere Ricardo Dobrovolski.

“Tanto a conservação da biodiversidade quanto a produção de alimentos beneficiariam de uma mudança de paradigma na forma como se concebem e implementam políticas de conservação. Naturalmente isso trás desafios novos, nomeadamente a nível das instituições internacionais que, até à data, não têm mandato para atuar nestas matérias. Pensamos, no entanto, que em virtude dos desafios que temos pela frente, mais tarde ou mais cedo será necessário equacionar a possibilidade de uma maior coordenação das políticas agrícolas e de biodiversidade a nível internacional. Se não o fizermos será mais difícil alimentar uma população humana crescente e preservar a biodiversidade que é suporte para tantos serviços de ecossistemas essenciais para o bem-estar humano, conclui Miguel Araújo.

Artigo original:

Ricardo Dobrovolski, Rafael Loyola, Gustavo A. B. DA Fonseca, José A. F. Diniz-Filho  & Miguel B. Araújo. Globalizing Conservation Efforts to Save Species and Enhance Food Production. BioScience. DOI: 10.1093/biosci/biu064

Sobre o compromisso do CIBIO-InBIO com a promoção de cultura científica:

A disseminação de informação e cultura científica para o público em geral como uma forma de promover a literacia científica da população é uma das principais prioridades do CIBIO-InBIO. Os nossos investigadores estão activamente empenhados no desenvolvimento de uma grande diversidade de iniciativas de educação e comunicação, focadas na relevância da compreensão e preservação da biodiversidade dirigidas ao grande público, às escolas e aos meios de comunicação social.

JS | UELINE

Publicado em 26.05.2014
Fonte: GabCom | UÉ