Natural de Fatela (Fundão), Eduardo Nogueira (1898-1969) veio para Évora em 1928, instalando-se na Rua de Avis, 24, local onde anteriormente estivera a Photographia Lisbonense de Ricardo Santos.
Ao longo de quatro décadas, Eduardo Nogueira irá retratar o quotidiano público e privado da cidade, captando momentos marcantes do ciclo de vida dos seus habitantes, desde o nascimento à morte.
Profissional competente, foi homem multifacetado, com interesses variados nas áreas da literatura e da pintura. Para além da sua actividade comercial, participou em diversas exposições nacionais e internacionais, tendo obtido diversos prémios e distinções, não tendo, contudo, integrado qualquer associação ou grupo fotográfico.
As fotografias expostas datam do período compreendido entre 1930 e finais de 1950. Um primeiro conjunto, que poderíamos classificar como imagens/documentos, são retratos realizados por encomenda e destinados a registar a realidade vivida, e um segundo conjunto composto por retratos artísticos, desvinculados da realidade e exclusivamente preocupados com cânones estéticos e de composição fotográfica.
O conjunto expositivo representa, assim, uma visão parcelar da realidade económica, social e cultural eborense, correspondendo a um conjunto de códigos sociais, característicos de uma sociedade fortemente estratificada como era o de Évora naquele tempo.
Não obstante, lançam luz sobre a continuidade dos rituais da vida social de que um dia fizeram parte. Testemunham a maneira como cada comunidade fotografada se deixava fotografar, deixando intuir um inventário de situações e valores de cada grupo, um propósito de legitimação e memória, quer para a família, quer para o grupo, quer para a empresa fotografados.
Esta é a terceira vez que o Arquivo Fotográfico da CME expõe retratos de eborenses. Conscientes do papel sagrado, social e psicológico que cada imagem encerra, procurámos criar um discurso expositivo que reflectisse o respeito pela substância humana armazenada na memória fotográfica, deixando falar o silencioso passado com toda a sua insolúvel complexidade…