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Trimestral | Nº 04 - 2017
Investigação & Divulgação

Técnicas digitais e supercomputação aplicadas ao estudo de gravuras pré-históricas: o caso do crome-leque dos Almendres (Évora).
Enrique Cerrillo Cuenca | CIDEHUS - Universidade de Évora

Enrique Cerrillo Cuenca | CIDEHUS - Universidade de Évora

A implantação de metodologias digitais em Arqueologia cresceu exponencialmente nas últimas décadas. Esta disciplina beneficia dos avanços no campo da computação para permitir um estudo mais realista das sociedades do passado, e ao mesmo tempo harmonizar o conhecimento científico com estratégias de difusão e preservação do património cultural. Esta relação entre as ciências da computação e a Arqueologia não é nova, assim como avançam as capacidades das tecnologias digitais também aumentam as possibilidades de compreender o património arqueológico.

Um dos campos da Arqueologia pré-histórica que mais beneficiou é a documentação da arte pré-histórica. A degradação, a acção frequente da erosão, dos pigmentos e das superfícies gravadas dificultam a maior parte das vezes a interpretação das representações pré-históricas. Hoje em dia, a análise digital dos suportes decorados, sejam rochas isoladas ou elementos megalíticos (menires, esteios de dólmens, etc.) permite revelar informação que não é perceptível a “olho nu”. A documentação digital tem a vantagem adicional de evitar o contacto directo com o elemento decorado, facilitando que a sua documentação seja feita sem manipular ou alterar a superfície em análise.

No caso deste projecto, autorizado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo e feito em parceria com a Universidade de Évora e a Universidade de Alcalá (Espanha), o sítio escolhido para experimentar um conjunto de novas técnicas foi o cromeleque dos Almendres (União de freguesias de Tourega e Guadalupe, Évora), uns dos sítios emblemáticos da Arqueologia portuguesa. O trabalho feito nas décadas passadas pelo Doutor Mário Varela Gomes corresponde a um importante avanço no levantamento da decoração de cerca de uma centena de menires que compõem um dos cromeleques melhor preservados da Arqueologia europeia. Estes trabalhos pioneiros revelaram um código iconográfico muito próprio e particular da Pré-História do ocidente ibérico, fortemente ligado à tradição megalítica. Este trabalho incontornável pode ser hoje actualizado com o apoio das tecnologias digitais, revelando novos elementos para a compreensão deste sítio arqueológico, tal e como as nossas primeiras experiências no sítio acabaram por evidenciar.

Os métodos envolvidos na inventariação que estamos a realizar em 2017 filiam-se na área da visão computacional. Ou seja, da parte da informática virada para a extração de conhecimento a partir das imagens digitais.  Os métodos informáticos foram implementados em software open source , gratuito e aberto, que permitiu a criação de um sistema de trabalho eficiente e sem custos. A partir de centenas de fotografias que foram tiradas para cada uma das peças obtêm-se milhões de observações individuais que permitem a criação de modelos 3D para cada um dos menires que compõem os Almendres. Uma novidade para o tratamento dos dados neste projecto é o uso de supercomputação, isto é, a distribuição do cálculo entre distintos cores de um sistema que agiliza substancialmente os cálculos e inclusive produz informação mais precisa sobre as gravuras. O último ingrediente é a aplicação de algoritmos próprios que revelam finalmente os traços das gravuras que permaneciam ocultas, e erodidas, na superfície da rocha. Este sistema está a permitir a identificação de novos elementos gravados, tais como novas representações humanas desconhecidas e novos objetos associados a elas.

Os novos resultados serviram para acrescentar, e mesmo para debater, a interpretação do sítio. O Cromeleque dos Almendres foi um espaço dinâmico, que se construiu ao longo de um dilatado período da Pré-História, durante o qual foram agregadas distintas identidades. Identidades que estão representadas pelas mulheres e homens registados nos menires que compõem um dos sítios mais singulares do Neolítico e do Calcolítico de Portugal.

É importante conhecer também as limitações dos nossos métodos digitais. Estes não produzem informação objetiva sobre a presença ou ausência de gravuras, mas incrementam substancialmente a possibilidade de as detectar e interpretar com mais facilidade, e sobretudo permitem a disponibilização dos novos resultados ao público em plataformas digitais, que será o objectivo final do nosso projecto. Além disso, o legado do projecto será um ponto de situação sobre o estado de Almendres em 2017, que poderá servir no futuro para avaliar as possíveis degradações do monumento.

Agenda
De 02.11.2017 a 16.11.2017
Palácio do Vimioso
De 03.11.2017 a 17.11.2017
Palácio do Vimioso
Ciclo de Conferências do Departamento de Economia - 2017-2018
De 13.09.2017 a 31.07.2018
Assinatura de Protocolo
Em 04.01.2018
10:30 | Sala de Docentes | Colégio Espírito Santo
MASLOWATEN na magazine oficial do Horizonte 2020
Em 14.12.2017 | 18:00
Publicado em 14.12.2017