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Trimestral | Nº 02 - 2016
Investigação & Desenvolvimento

Paulo Simões Rodrigues | Diretor do CHAIA
CHAIA | Centro de História da Arte e Investigação Artística

CHAIA | Centro de História da Arte e Investigação Artística

A afirmação profética do escritor russo F. Dostoiévski é a metáfora perfeita para sintetizar o âmbito da investigação desenvolvida pelo CHAIA: a partir da noção da arte como forma de conhecimento, compreender e analisar de que modo o desenvolvimento civilizacional, a tecnologia e a ciência alteraram, em diferentes momentos históricos e na atualidade, as percepções e as representações do tempo e do espaço, as identidades individuais e colectivas, as ideias e as práticas artísticas, e as Artes e Humanidades enquanto áreas do conhecimento com capacidade para intervir crítica, política e prospectivamente no presente.

Fundado em 1987, avaliado e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia desde 1998, o CHAIA está entre as mais antigas unidades de investigação em Artes e Humanidades do país. A sua matriz científica é a História da Arte. No entanto, cedo desenvolveu uma vocação pluridisciplinar com a progressiva integração de investigadores das áreas da Paisagem, Música e Musicologia, Teatro, Artes Visuais, Arquitetura, Design, Arqueologia e Filosofia. A conversão desta multidisciplinaridade numa estratégia de transdisciplinaridade levou a que se destacassem dois eixos estruturantes de investigação e acção: o património e a investigação artística.

Em relação ao eixo do património, destaca-se a investigação desenvolvida nos campos do Património Digital e da Ciber-Arqueologia, sobretudo com o projecto Cidade e Espectáculo: uma visão da Lisboa Pré-Terramoto , o qual, a pretexto da recriação digital da cidade de Lisboa nas vésperas do terramoto de 1755, ensaia a possibilidade da aplicação da tecnologia digital à recriação virtual do passado se tornar num laboratório de investigação em História da Arte e Arqueologia. A tecnologia digital possibilita novas correlações de fontes, factos e informações históricas, e a experimentação de hipóteses por meio da sua modelação tridimensional, designadamente de edificações, infraestruturas e espaços urbanos. A informação produzida por este processo faz já parte de uma nova epistemologia, ontologicamente digital. Na sequência deste projecto, desde 2014 que o CHAIA faz parte da INNOVA-Virtual Archaeology Network e participa no INNOVA Master Degree in Virtual Heritage: the Cultural Heritage in the Digital Era . Mais recentemente, em parceria com o CIDEHUS e a Câmara Municipal de Évora, está a desenvolver o projecto Évora 3D , que recria virtualmente esta cidade desde o período romano ao século XIX.

Estas parcerias intra/inter-institucionais são fundamentais para a projeção da investigação realizada no CHAIA, como atesta a estabelecida com o HERCULES e, mais uma vez, o CIDEHUS com a finalidade de fixar uma metodologia comum à Ciência, à Tecnologia e às Humanidades que as congregue numa abordagem integrada das problemáticas específicas do Património. Até ao presente momento, esse processo concretizou-se na criação de um doutoramento FCT, o HERITAS - Estudos do Património , e na edição da revista digital MIDAS - Museus e Estudos Interdisciplinares  .

A Paisagem foi uma das áreas científicas fundadoras do CHAIA, com destaque para a história dos jardins e das transformações paisagísticas em Portugal e na área do Mediterrâneo, e dos seus efeitos ecológicos, culturais, sociais e económicos. Nos últimos dois anos, a investigação desenvolvida sobre as hortas urbanas e o seu contributo para um modo de vida e um futuro mais sustentável tem conseguido um crescente impacte na comunidade científica internacional, salientando-se a colaboração estabelecida com a Universidade de Sevilha para o estudo dos bairros urbanos e do seu papel no desenvolvimento sustentável das cidades. É ainda da responsabilidade dos investigadores da área da Paisagem, a coordenação científica da revista on-line Gardens & Landscape of Portugal .

No CHAIA, o conceito de Paisagem também tem sido utilizado para promover uma investigação em Arqueologia dirigida para a trans-disciplinaridade, designadamente no estudo dos monumentos megalíticos, da pintura rupestre e do povoamento romano, com particular incidência no sul de Portugal e na Estremadura espanhola.

No eixo da investigação artística, destaca-se a reflexão sobre a relação entre Arte, Ciência e Tecnologia, patente na investigação realizada no contexto do doutoramento em Artes Visuais, com incidência no cruzamento com as áreas dos Media, Estudos Culturais, Metamedia e Design. Cada vez mais consolidada está a incidência na função social da arte, pela abordagem de temas que contribuem para a problematização das identidades locais no contexto da globalização, como o Azulejo, com o projecto Rota do Azulejo Barroco no Alentejo , ou o Teatro de Marionetas, desenvolvida pelos investigadores da área do Teatro. As Artes Visuais, o Design e a Arquitectura, através das suas formações pós-graduadas, têm desenvolvido projectos que propõem uma valorização e actualização das culturas e das técnicas locais.

O perfil de investigação aqui apresentado define uma missão institucional que atende às necessidades do contexto regional em que se insere, a cidade de Évora e a região do Alentejo, mas que se projeta nacional e internacionalmente nos resultados, na reflexão e no debate daí resultantes.

Paulo Simões Rodrigues | Diretor do CHAIA