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Trimestral | Nº 01 - 2016
Formação Avançada

Doutoramento em Arqueologia
O povoamento rural no troço médio do vale do Guadiana entre a Antiguidade Tardia e a Idade Média
João António Ferreira Marques

O povoamento rural no troço médio do vale do Guadiana entre a Antiguidade Tardia e a Idade Média

Orientação:  Jorge de Oliveira e Susana Martínez

No final dos anos noventa do século XX, foi empreendido na região do Alentejo, no vale do rio Guadiana, um importante programa de minimização dos impactes sobre o património arqueológico resultantes da construção da barragem  de Alqueva, nomeadamente na área do seu extenso regolfo, com o objectivo de efectuar o registo prévio dos contextos de algumas centenas de sítios. Foram efectuadas intervenções num conjunto muito significativo de ocorrências arqueológicas situadas em meio rural que revelaram contextos raramente intervencionados no âmbito da investigação arqueológica tradicional, nomeadamente do período de transição entre a Antiguidade Tardia e a Alta Idade Média.

O território em estudo foi assim administrativamente delimitado pelos actuais municípios ribeirinhos portugueses do regolfo de Alqueva, tendo, para além dos dados arqueológicos resultantes do programa de minimização, sido recolhida informação arqueológica georreferenciada dos sítios constantes no Endovélico, Sistema de Informação e Gestão Arqueológica, bem como a constante nos relatórios e nas monografias dos trabalhos entretanto publicadas.

A questão fundamental da investigação do povoamento rural prende-se com a escassez de dados existentes e com a ampla diacronia dos mesmos. Na quase ausência de fontes escritas e de outra documentação, verifica-se a necessidade de procurar obter, através dos dados arqueológicos, informação que permita a percepção da sua evolução.

O modelo teórico de abordagem seguido pressupõe que, apesar das alterações conjunturais, houve uma continuidade cultural de matriz mediterrânica, com particularidades regionais nos padrões de assentamento rural desde o Período Romano, baseada numa estrutura de povoamento hierarquizado, expressa sobretudo em villae, pequenas granjas ou casais agrícolas.

Este trabalho procura assim compreender como se processaram, nesse ambiente, os fenómenos de transição socioeconómica e de aculturação e evidenciar a existência de fenómenos de continuidade na cultura material, mesmo após a conquista islâmica, com persistência  até  à  época  contemporânea,  nomeadamente  até  à  industrialização  e mecanização da agricultura.