Resumo: Com a evolução da medicina e a melhoria das condições de vida nos países desenvolvidos, ao longo das últimas décadas, tem vindo a registar-se um considerável interesse no desenvolvimento de métodos de medição quantitativa do estado de saúde percebido pelos indivíduos. De facto, a medição da qualidade de vida relacionada com a saúde implica a medição e valoração das preferências dos indivíduos, que são dois dos mais importantes e difíceis aspetos inerentes ao setor da saúde em geral e à economia da saúde em particular. Essencialmente, a dificuldade da medição prende-se com o facto da saúde ser um conceito multidimensional, difícil de definir e para o qual uma medição ordinal é muitas vezes insuficiente, sendo imprescindível dispor-se de uma medição cardinal. Neste sentido, têm sido desenvolvidos vários instrumentos de medição de preferências. Os instrumentos baseados em preferências mostram, tal como o nome indica, a preferência do indivíduo por um determinado estado de saúde, isto é, a utilidade que atribui a esse estado de saúde. Estes instrumentos consistem em questionários simples de aplicar que definem, através de um sistema descritivo, a saúde do respondente e têm subjacente um sistema de valores que permite atribuir um valor ao seu estado de saúde. Estes valores podem ser utilizados em avaliações económicas de programas de saúde, na tomada de decisão clínica, na política de saúde ou em ensaios clínicos. Os sistemas de valores são determinados a partir da valoração de estados de saúde hipotéticos e posterior modelação desses estados de saúde.
Neste seminário será descrita a investigação levada a cabo no sentido de validar para Portugal dois dos instrumentos de medição de preferências mais utilizados em todo o mundo, o EQ-5D e o SF-6D. Será também mostrado como foram determinados os sistemas de valores desses instrumentos adaptados à população portuguesa, demonstrando-se como são medidas as utilidades atribuídas aos estados de saúde hipotéticos e apresentando-se a modelação econométrica subjacente à determinação dos sistemas de valores. Mostrar-se-á também que os sistemas de valores de outros países não são diretamente aplicáveis à população portuguesa.

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