Gertrudes Guerreiro e António Caleiro, professores do Departamento de Economia da Universidade de Évora foram os premiados da terceira edição do prémio atribuído pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
O trabalho agora premiado incidiu o seu estudo sobre os indicadores de desigualdade espacial nas remunerações médias (por concelho), tendo em consideração o coeficiente de variação ponderado pela população (Williamson índex), permitindo analisar a sua evolução ao longo do tempo.
A dupla de investigadores levam este prémio, pelo indicador que serve para a desigualdade dos rendimentos, entre municípios, num simples número, permitindo analisar a sua evolução ao longo do tempo.
O prémio Pordata Inovação tem por objetivo procurar indicadores novos, de maneira a “promover e aprofundar o conhecimento da sociedade portuguesa e reforçar a articulação entre a PORDATA e os agentes de produção de conhecimento”.
A diretora da Pordata, Maria João Valente Rosa, explica que o prémio atribuído pela Fundação Francisco Manuel dos Santos pretende incentivar os investigadores, a “contribuírem com indicadores que de algum modo possam acrescentar algo àquilo que já sabemos”, explicou.
Em entrevista ao Gabinete de Comunicação da Universidade de Évora, os autores são unanimes em considerar que este prémio “representa o reconhecimento, por parte de uma entidade reconhecidamente importante na matéria, de um trabalho conjunto, o qual resultou de preocupações comuns aos dois, nomeadamente a desigualdade”.
Gabinete de Comunicação (GC) - O que representa este prémio para os autores?
Gertrudes Guerreiro (GG) - Para mim, a título pessoal, representa o reconhecimento de um trabalho (e de uma área de investigação) que desenvolvo há uns anos a esta parte, e que respeita ao estudo das desigualdades de rendimento (e outras), não apenas entre indivíduos, mas também entre diferentes territórios.
António Caleiro (AC) - Em particular para mim, resulta das minhas preocupações com a equidade (social), tantas vezes posta em causa quando, por exemplo, se pratica e/ou se permite a existência de discriminações salariais, prática obviamente ilegal à luz de várias leis de carácter superior, e imoral, do ponto de vista social.
GC - Em que consiste o estudo premiado?
GG&AC - O indicador de desigualdade que propomos - Índice de Desigualdade Territorial nas Renumerações Médias, permite medir a desigualdade sob uma perspectiva diferente, neste caso territorial. As nossas unidades de análise são os concelhos, em vez de indivíduos, sendo que pretendemos avaliar a desigualdade entre unidades territoriais, e não entre indivíduos, quer global, quer desagregada por sexos.
GC - Que carácter inédito apresenta o indicador que propõem?
GG&AC - Este indicador aborda o problema da desigualdade na distribuição do rendimento numa perspectiva diferente da habitual, dando resposta a questões como: Será que a geografia influencia o padrão de desigualdade? Será que o nível de vida médio varia consoante o local de residência dos portugueses? A análise da evolução dos indicadores propostos permite ainda concluir acerca da convergência em termos de rendimento médio, entre as unidades territoriais mais pequenas, os concelhos, o que representa um acréscimo importante e inovador em termos de conhecimento do território português.
GC - Quão desigual é a distribuição de remunerações, ao nível dos municípios, em Portugal Continental?
GG&AC - Neste tipo de indicadores, torna-se interessante a análise evolutiva, permitindo aferir acerca do (des)agravamento da desigualdade entre as remunerações médias dos concelhos, quer em termos globais, quer por género. Neste caso particular, observa-se que a desigualdade global apresenta uma tendência decrescente (0,248 em 2010 e 0,241 em 2013), o que se mantém sobretudo para o sexo masculino (0,267 em 2010 e 0,258 em 2013), dado que no sexo feminino esta tendência não é tão evidente. O indicador apresenta valores superiores para o sexo masculino (conforme gráfico abaixo e no portal PORDATA).