Orientação: Maria Margaret Lopes & Maria de Fátima Nunes
Os museus de arqueologia são habitualmente associados à obra de coleccionadores ou cientistas que criaram museus locais, regionais ou nacionais, cedendo o acesso público às suas colecções particulares e sabendo que conquistariam a respeitabilidade e eternização do seu nome. Mas as colecções e os museus que criaram não se teriam desenvolvido sem a cooperação de um conjunto de proprietários, informadores e dezenas de coleccionadores privados – indivíduos interessados em arqueologia que acompanhavam os desenvolvimentos científicos da sua época, coleccionavam e identificavam objectos e estruturas arqueológicas, colaboravam com instituições e coleccionadores, dando informações, fornecendo apoio logístico à realização dos trabalhos de campo, oferecendo ou vendendo os seus objectos ou as suas próprias colecções arqueológicas a instituições ou a museus.
Recorrendo a fontes manuscritas, a publicações da época e reconstituindo o percurso dos objectos museológicos pudemos documentar a multiplicidade de actores envolvidos nos processos de criação, movimentação, dispersão, comercialização ou desaparecimento de colecções. Com esta metodologia salientamos o caracter colectivo da construção das ciências, neste caso da arqueologia em Portugal, a heterogeneidade da rede de actores e sítios que canalizam objectos para os museus, o incremento de circuitos comerciais de nível local, regional, nacional e internacional, bem como o cruzamento de dinheiros particulares e públicos na preservação do património e construção da história.
Ao valorizar a multiplicidade de actores envolvidos nos processos constituição de colecções arqueológicas e de produção do conhecimento esta tese identifica os processos de formação e desenvolvimento da cultura científica e contribui para a ampliação das narrativas historiográficas sobre os museus e as suas colecções históricas.
Palavras-chave: ciência, arqueologia, colecções, objectos, actores, redes